Não pensavam que eu tinha escrito num post 16 anos anos de vida da minha Sissi pois não?
É que era impossível, se o fize-se em tão poucas palavras significava que tinha pouco a dizer sobre os 16 anos que vivi com ela, e apesar de não ser capaz de escrever aqui todos os momentos que vivi com ela e de não conseguir expressar todas as sensações que tive ao viver com ela, ainda esta muita coisa por dizer.
Ela tinha o nome de Sissi mas também era chamada por outros nomes aos quais ela respondia tais como bebé, bonequinha, preta (ela era toda pretinha), fofinha. Ela era uma cadelinha pequenina de raça caniche toy, quem a via dizia que parecia uma cadela a pilhas. Enquanto foi nova e não tinha problemas de saúde era uma cadela cheia de vida e energia para alguém de fora a conseguir agarrar tinha que correr muito e mesmo assim não era fácil, lembro-me de uma vez uma prima minha andar atrás dela mais de meia hora e não a conseguir agarrar. Era brincalhona, chegou a ter um daqueles hambúrgueres de brincar para cães e ela agarrava nele com a boca mandava-o ao ar e depois ia atrás deles, gostava de brincar com bolas e com todos os insectos que se atravessassem a frente dela e ela conseguisse apanhar. Chegou a apanhar pássaros, a ladrar a cobras, a correr atrás de sardões, apanhava moscas era uma caçadora nata.
O meu pai é caçador e de vez enquanto soltava um coelho num terreno que temos vedado e ela lá andava toda satisfeita a correr atrás dele para a tirar de lá era um castigo, dias depois se a levássemos lá começava logo a farejar a ver se o coelho ainda lá estava, o andar sempre a farejar era uma das características dela, tinha que cheirar tudo até o café do meu marido, todos os dias quando ele ia beber café ela punha-se a farejar e a olhar para ele só descansava quando ele punha o café a frente dela para ela cheirar.
Quando eu comecei a namorar com o meu marido a primeira vez que ele lá foi ela ladrou-lhe muito e ele também não engraçou muito com ela mas, como tempo começaram-se a dar bem, ainda para mais que ele começou a enche-la de mimos e festas que era o que ela mais queria. Quando eu me casei fiquei a viver perto da minha mãe depois de eu vir de lua-de-mel fui busca-la a casa da minha mãe para vir viver comigo ela assim que chegou a minha casa "apropriou-se" de um puff em forma de pêra que eu tenho para servir de cama durante o dia, sim durante o dia porque eu casei em Outubro e como fazia frio ela ia ter comigo a cama durante a noite. Enquanto ela se conseguiu mexer bem e saltar para cima da cama e para fora dela ia para lá sempre que queria, depois quando ficou apanhadinha das patas traseiras nós levávamos e ela quando queria sair começava a andar devolta da nossa cara, Mas ela só gostava de dormir connosco de inverno no verão dormia num dos puffs.
Ela gostava tanto de estar cá em casa que a minha irmã chegou a vir busca-la para ela lhe fazer companhia quando ela estava sozinha em casa dos meus pais, e ela fugia para minha casa e deitava-se a entrada da porta há espera que eu chega-se a casa. Tenho saudades do tempo em que nós chegávamos a casa e ela se levantava do puff a correr e vinha ter connosco com a cabecinha a abanar toda satisfeita e começava a gemer quando a agarrávamos ao colo.
Muitas pessoas me perguntavam qual era a reacção dela em relação aos meus sobrinhos, enquanto eles foram bebés ela nunca lhes fez mal e quando eu ia pô-los a dormir ela ia também e queria ficar deitada aos pés deles, ninguém lhes podia fazer mal e nem sequer levantar a voz. Se eu tivesse algum deles ao colo ela deitava-se ao pé de mim e assim que o bebé sai-se do meu colo ia para lá ela, ela nunca foi má para eles, lá lhe rosnou uma vez ou outra agora que estava doente e porque eles não se tiravam de volta dela a querer mexer-lhe.
Depois de eu me casar e passado pouco tempo ela começou a ter problemas de saúde, tinha cataratas e bicos de papagaio, depois os problemas de coração. Isto a seis anos atrás, o que para mim e para o meu marido tournou-se difícil deixa-la com os meus pais quando saiamos para passar o fim-de-semana em casa dos meus familiares no norte porque ela tinha que tomar medicação todos os dias e era complicado dar-lha, então a Sissi começou a fazer parte das visitas constantes a casa da minha madrinha ou a casa dos meus avós no norte. Eu sei que era muita medicação para um animal tão pequeno e que ela tinha muitos problemas de saúde, sim porque o ano passado ela foi operada e tirou o útero e os ovários, teve também um enfisema pulmonar, sei que são demasiadas complicações para um animal tão pequeno, e que foi o melhor para ela e que ela teve uma vida muito boa.
Ela chegou a ir passar féria ao Algarve, foi a Espanha por a fronteira do Algarve e também foi a Santiago de Compostela, foi fazer campismo comigo, foi a sítios que muitas pessoas não foram, teve mimos, atenção, carinho, amor, e regalias que muitas crianças não têm mas, para mim ela era não só a minha companhia de todos os dias mas também o filho/a que ainda não consegui ter.
A minha vida e a do Renato nesta fase girava em torno dela de manhã ele dava-lhe os comprimidos e deitava-a no puff, há hora de almoço eu chegava a casa ia com ela a rua ver se ela fazia xixi, trazia para casa punha no puff e se fosse de inverno ligava o aquecedor, se fosse verão ligava a ventoinha, depois vinha o Renato dava-lhe mais comprimidos, fazíamos festas davamos-lhe mimos depois íamos almoçar a correr para ir trabalhar, quando eu chegava a casa ia logo ter com ela, ia outra vez a rua depois queria ir para o sofá como é inverno era sempre de aquecedor ligado e eu tinha que ficar ao lado dela um bocado para ela acalmar, ela só acalmava quando eu estava perto dela ou a agarrava ao colo. Quando eu ia fazer jantar ela tinha que ir ver o que eu estava a fazer tinha que ir sempre cheirar, quando íamos jantar ela ia também se o comer lhe agrada-se comia senão vinha-se deitar ao pé do aquecedor, ultimamente como ela não conseguia subir para o puff tinha uma almofadinha e uma manta polar só para ela.
Quando eu ia para a sala ver televisão ela tinha que estar ao meu lado, gostava de estar deitada no sofá ao meu lado, quando eu ia dormir ela ia comigo eu deitava-a na cama entre mim e o Renato para ela ficar melhor, eu ficava sempre uns 10 minutos a olhar para ela e a fazer-lhe festas antes de apagar a luz.
Eu já adorava a Sissi há muito tempo e já sabia que fosse qual fosse o motivo da morte dela me ia custar muito, tanto eu como o Renato já estávamos há espera a muito tempo de um dia chegar a casa e encontra-la morta, e pensávamos que sempre era mais fácil do que mandar abate-la. O que eu nunca pensei foi que ela espera-se por mim para morrer, sim ela esperou por mim para morrer e morreu nos meus braços, ainda estive para ai meia hora com ela morta nos meus braços, não queria acreditar que ela tinha morrido.
Sissi partiste e deixaste um vazio enorme nos nossos corações, deixaste um vazio enorme na nossa cama, na nossa casa, no nosso colo. Agora que partiste estamos sempre a pensar que nos estamos a esquecer de fazer qualquer coisa, estamos sempre a lembrar-nos de todos os gestos que tínhamos contigo de todas as atenções que te dávamos, de todos os teus movimentos, dos teus pedidos de atenção, de como era bom agarrar-te ao colo encostar a tua cabeça no nosso peito e tu ias logo por a cabecinha debaixo do nosso queixo, estamos sempre a lembrar-nos de como tua gostavas que te fizéssemos festas na tua barriguita, de como tua andavas de volta dos cortinados da sacada quando querias ir a rua, e de quando lá chegavas e te recusavas a sair da varanda por estar a chover. Lembramos também de todas as dentadas que davas no nariz do Renato quando ele te chateava, de como tu gostavas de doces, de como eras fofinha, de como eras inteligente, e ao contrário do que muitos dizem, lembro-me de como eras bonita. Lamento tenhas morrido mas nunca te vou esquecer, nunca nenhum outro animal me vai fazer esquecer de ti, tu foste e serás sempre única, e estarás sempre viva dentro do meu coração.